terça-feira, 10 de novembro de 2009

O JOVEM RICO


MATEUS 19:16
com referências de Marcos 10:17 e 14:51



Eu era apenas um jovem.


Muitas dúvidas, anseios, pensamentos e buscas incansáveis.

Eu vinha de uma boa família: Meu pai, sempre presente, reservava horas do dia para me disciplinar e ensinar a cuidar dos nossos bens. A sua hora havia de chegar e caberia a mim cuidar do sustento e de meus irmãos menores. Dois grandes lotes. Nosso gado pastava em um lado enquanto as tâmaras e oliveiras cresciam no outro pedaço de terra. Minha mãe era doce e reservava pra mim seu melhor sorriso. Seus olhos cansados escondiam sua beleza ainda jovem. Tínhamos empregados, mas como era muito humilde, fazia questão de dividir as tarefas de casa com as serviçais, que no final das contas se tornaram suas amigas. Mamãe tinha sempre um beijo e um carinho na cabeça. Mas fui crescendo, os beijos se tornaram mais tímidos e os carinhos beliscões... mas era a mesma mamãe que me ensinou a amar a todos como membros da minha família.

Ouvi falar de ti várias vezes.


Da sua voz, suas maravilhas e do reino ao qual ainda não havia ouvido. Da salvação, da vida eterna, do amar ao próximo como a si mesmo... meu Deus! A minha vida se tornou apenas razoável depois que eu tive conhecimento das tuas palavras.


Não foi difícil te encontrar, pois por onde passava levava multidões, além do burburinho que ecoava pelos becos quando chegava à cidade.


Estava um tanto temeroso em dar uma palavra em tua direção, mas você se virou pra mim como se soubesse que eu iria te perguntar algo. Não tive saída!


Te chamei da mesma forma como os que estavam junto a nós te chamavam: Mestre!


Confesso que por várias vezes fui arrogante, talvez contigo eu tenha sido, mas era uma forma de me proteger e transparecer uma falsa idéia de “dono” de mim mesmo.


Seu timbre de voz era acalentador como o de mamãe, mas havia força e poder como a voz de papai.


Você me pareceu dar conversa à minha ingênua pergunta, tanto é que me perguntou de volta e prolongou um pouco mais aquele maravilhoso momento.


Mas mestre, fui pego de surpresa pelo que me propuseste.


E a minha reação não foi a das melhores.


Me entristeci, pois fiquei sem resposta.


Como eu poderia deixar tudo o que eu tinha?


Poderia até te seguir, mas jogaria todo o tempo de meu pai pro alto?


E minha mãe? O primogênito sair de casa e derrubar por terra todos os planos de meus pais... para ela seria um absurdo!


Então cabisbaixo voltei pra casa. Mas suas poderosas palavras nunca voltam vazias, e hoje eu sei o que tu querias dizer com aquilo.


Naquele momento o meu exemplo seria lição aos que estavam juntos a nós.


E tenho certeza que muitos como a mim rejeitariam o que me disseste.


Mas a tua misericórdia é eterna, e sei quanto é valiosa uma alma para ti, senhor.


Na verdade tu conhecias o meu coração e sabia que depois de tudo eu iria pensar no que me disseste.


Não era vantagem para ti me fazer afastar.


Quando caí em mim, comuniquei aos meus pais que pegaria o que me pertencia para vender e assim dar aos pobres.


Por um momento riram achando que era brincadeira ou que havia pegado muito sol e estava ficando louco.


Mas depois de olharem as minhas mais caras túnicas expostas no chão do nosso pátio de entrada, meus braceletes de bronze puro e minhas botas de couro vindo da Síria, além do meu pote de pedras semipreciosas delicadamente esculpido por algum nobre artesão grego, tudo exposto à venda, a raiva invadiu o coração de meu pai e a tristeza tomou conta de minha mãe a ponto dela se agarrar em minhas pernas.


Mas de nada adiantou.


Aquelas palavras ainda ecoavam em minha mente. O amor que eu sentia por ti era imenso. Queria te seguir e ouvir mais e mais o que teria pra me dizer!


Arrecadei o bastante, confesso. Só fiquei com um denário para partir em busca de ti. O resto dividi com quem realmente precisava.


Mestre, você tinha que ver os olhos daquelas crianças, homens e mulheres quando eu lhes entregava as moedas de prata!

Segui seus passos. Pelo menos tentei.


Já havia passado um bom tempo desde aquela primeira vez que estivemos juntos.


Lamento por eu ter demorado tanto!


Fui lhe procurar um dia e meus passos cruzaram os teus.
Fui lhe mostrar que eu tinha vendido tudo! Nem roupa do corpo eu fiquei!

Mas o povo me reconheceu e me trataram mal depois do que me disseste. E vi, mestre, Que nem todo mundo que te segue te imita.

Saí correndo, nu. Como vim ao mundo fiquei, sem nada!

Mas não desisti do Senhor.
Dei mais um tempo para te procurar novamente.

A última vez que te vi tu estavas sangrando!


Haviam cuspido em tua face, aquela coroa devia estar doendo bastante em sua testa. E os cravos... meu Deus! Eram maiores que meu palmo aberto!


Mestre, o que fizeram contigo!


Te colocaram entre ladrões.


Mesmo daquele jeito tu não fraquejaste as pernas.


Tu estavas forte até o último suspiro. Vi seus lábios mexerem como se falasse aos céus algumas palavras. Como eu queria ter escutado tais ricas palavras! Palavras do meu Senhor!


Dei as costas antes de chegarem com uma lança perto de ti. Não quis ver tal cena.


Mestre. Vaguei sem destino.


Não voltaria mais pra casa. Minha mãe talvez me recebesse, mas papai... Não. Papai não aceitaria minha volta.


Não comi durante três dias. Dormi nas vielas e me confundiram com os beberrões e leprosos. Pedi abrigo numa daquelas pequenas casas em que deixei minhas moedas e mesmo assim não me receberam.


Me humilhei.


Mas não importava, o pouco que estive contigo muito ganhei, mestre.


Meu coração disparou quando vi uma mulher gritando que o Rabi havia voltado.


Mestre, tu voltaste à vida!


Sim, eu soube!


Mesmo sem te ver o meu coração afirmava que tu estavas entre nós novamente.


Era como se algum espírito, ou melhor, algum Santo Espírito tivesse explodindo em meu peito, confirmando que tu és eterno.


E isso me respondeu aquela primeira pergunta que eu te fiz: “que bem farei para conseguir a vida eterna?”


Sendo assim voltei pra casa. A raiva de meu pai havia terminado e não havia mais a timidez em minha mãe e ela me abraçou e me beijou como antes!


E na verdade o bem maior que eu tenho, a maior riqueza, meu maior patrimônio é a tua palavra em meu coração. E essa continuo a dar de graça aos pobres de espírito, pois a mim foi dada de graça.


Obrigado, mestre.


Deixei de ser um egoísta jovem rico, para ser um próspero homem cheio do Seu Espírito.
Além do mais, tudo isso me prova que o Senhor não faz acepção entre pessoas.
Jesus.Glórias ao teu santo nome!


Alexandre Monsores

O Último Discípulo


ATOS I: 21 a 26.


Ah, aqueles dias!
Apenas mais um pequeno e magrelo menino que ficava pelos cantos murmurando sua má sorte.
Ninguém dos que viviam em sua rua se interessava por trocar meia dúzia de palavras comigo.
Durante os momentos de lazer, raros eram as vezes que me escolhiam para jogar “carimba”. Quando eu mesmo não levava a bola feita de bexiga de boi cheia de areia que meu pai havia feito, eu era deixado de fora da equipe e apenas assistia os meninos jogar várias partidas de episkiros”.
O único jeito era pegar a minha “pandorga” e empina-la aos céus por entre os pássaros... Ah. Aqueles dias! Quisera eu ser um daqueles pássaros!
Cresci achando que o futuro eu é que fazia.
Tinha certeza que meu suor e meus calos me trariam a sorte, ou melhor, eu a compraria.
Sorte? Pra que sorte?
Destino? Eu faço o meu destino!
Coloquei em minha mente o que faria nos próximos anos e, sem intervenção de ninguém ou nada, seria um homem chamado para o sucesso apenas com o meu próprio esforço.
Mas minha insegurança falava mais alto.
Eu me lembrava do velho menino. E por mais que você nos falasse sobre viver cada dia com o seu mal, me preocupar com um certo reino nos céus e uma vida eterna... Mestre, eu me achava fraco para tudo isso.
Eu adorava as história sobre Davi. Como Deus escolheu aquele jovem, dentre todos os fortes filhos de Jessé, para torná-lo um grande rei. Isso sem falar do próprio Samuel, que ainda menino o Todo poderoso o separou para o árduo chamado de profeta.
Ouvi falar de um tal Gideão que, de pequeno se tornou um nobre guerreiro e vi, com os meus próprios olhos, o carinho que Tu tiveste com Zaquel, pequeno em estatura.
Mas o máximo que estaria preparado para mim eram os meus planos.
Tentei comercializar madeira, mas eu não era tão bom com as palavras e poder de convencimento assim.
Tentei pescar, mas eu era muito impaciente.
Construir casas... isso nunca! O ofício de pedreiro era muito pesado pra mim.

Só me restou somar, agradavelmente, aos quase cento e vinte homens que Te seguiam, foram três anos e meio até chegar o momento.
Aquele dia nunca vou esquecer.
O mais importante de minha vida.
Eu e meu amigo José, o Barsabás, nos apresentamos a Pedro. Foi aí que eu percebi que já havia tanto tempo que Te ouvia e seguia Teus ensinamentos, desde Teu batismo até a subida aos céus.
Quanto tempo...
Mas é assim mesmo: quando é agradável de se estar, o cronos acelera sua covarde contagem e não percebemos que os dias passam num piscar de olhos. Ao contrário do momento da angústia, em que o mesmo cronos se esquece de mover.
Pedro orou.
Senhor, o que estava preparado pra mim?
Eu já havia voltado a pensar sobre as madeiras que haveria de vender, criando novamente meus planos para o futuro, e, de repente sou surpreendido pelo Teu querer?
Alguns de nós separaram uma moeda para jogar à sorte. Outros pegaram dois gravetos de tamanhos distintos para escolhermos, mas foi o próprio Pedro que pegou algumas pedras pretas e uma branca e as pôs dentro de uma sacola de estopa.
Um de nós haveria de pegar aquela pedra branca.
A cada pedra que tocávamos uma gota de suor escorria por nossas testas.
Nós nos entreolhávamos e sorríamos sem graça, e Pedro, somente segurava a sacola que a cada momento ficava mais leve.
Será que seguiríamos os passos do outro? Aquele louco! Perdão, Senhor. Mas é difícil de perdoá-lo! Por que, Judas? Por quê?
Pronto! Era dado o momento. Quando olhei meu punho aberto ali estava ela: a pedra branca.
José correu para os meus braços e me beijou a face e disse: “Boa sorte, grande amigo!”
Sorte? Senhor! Realmente Tu sabes o que fazer para nos preparar para o Teu propósito.
O que Tu viste em mim, Jesus?
Quem diria... Um dos doze!
O pequeno Matias!



Texto escrito por Alexandre Monsores, inspirado em ATOS I, quando Matias é sorteado para ficar no lugar de Judas, entre os apóstolos.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Mulher Samaritana


João cap 4:1 a 30 com vistas a II Reis 17:24 a 41


Não pude ficar ali!
A humilhação era tanta que, num só momento escolhi o pior horário – em pleno meio dia – para buscar água. Não podia esperar até à tarde para ir ao poço com as demais.
Ah, o sol da Palestina!
Minhas sandálias derrapavam nas pequenas pedras do solo de Sicar; o cântaro, ainda vazio, na metade do caminho já pesava o dobro de seu peso. Desde menina venho buscar água no poço de Jacó, nosso pai, mas mesmo assim não me acostumo. Por que será que a colina se tornava mais alta a cada passo?
Ah, o sol da Palestina!
Deu pra ver de longe a Sua túnica, e Ele estava só.
Seria um peregrino? Seria um de nós?
Debaixo daquele céu azul sem uma única nuvem, aquele homem me aguardava.
Olhar cansado. Eu O conheço? Não.
Mas parecia que Ele sim me conhecia!
Lábios ressecados, enxugava o suor da testa com a manga do Seu braço, alparcas cinzas com o pó da estrada, canelas russas, a borda do vestido... Sim! Era um judeu! O fio azul na bainha do seu vestido o condenava.
Não podia Lhe falar, mas não conseguia deixar de olhar para o seu rosto manso.
O calor aumentou.
Ah, o sol da Palestina!
Quando eu ia lhe perguntar se me conhecia, tendo em vista que insistia em me fitar, ele me pediu:
- Dá-me de beber.
Como tais perguntas ainda ecoam em meus ouvidos. As primeiras palavras de um judeu direcionadas a mim.
Se eu fosse um homem, teria Jesus coragem de fazer o mesmo? Quantas mortes já ocorreram entre judeus e samaritanos... Mas hoje entendo que não foi uma questão de coragem, e sim uma questão de amor.
Aquele estranho homem devia estar a muitas horas andando sob aquele sol escaldante e, quem sabe, não percebeu meu perfil samaritano.
Ah, o sol da Palestina!
Nunca tinha ouvido tais palavras, e como foi difícil entender da “sede do Espírito” e da “Água da Vida”.
Há muito ouvi falar que ele viria, o Messias, não somente o profeta. Mas inconstante como eu era, só eu sei como me deixei levar por influências.
Assim era o meu povo, como a mim: inconstante.
Tenho culpa pelos cinco casamentos?
Samaria se casou cinco vezes nesses últimos setecentos anos!
O povo de Babel tinha muitas caras, muitos momentos... muitos conflitos.
Ficava difícil a comunicação pelo fato de que carregava consigo muitas línguas.
Assim era Jubal, meu primeiro marido. No terceiro ano não agüentava mais tanta falta de comunicação.
Seu próprio nome – que significa “pequeno riacho” – explicava a quantidade de influências que ele carregava por onde passou durante a sua vida. Aquela paixão acabou mais rápido que eu esperava.

“Como você, doce peregrino, me daria água se não tens com o que pegar?”
Que ingênua pergunta. Eu estava em frente do Manancial de água viva
!

Guta era um povo frio. Quieto.
Samaria chorava pela fome e dor da ocupação, e Guta insensível ao clamor do meu povo.
Meu segundo homem, Malque, era assim.
Nunca sorriu com o meu sorriso. Nunca chorou com o meu choro.
Meu Deus! Eu sou sensível e eu tinha as minhas dores!
Nem prazer Malque me deu... E na sua morte, eu é que não chorei!
Quando Samaria se casou com o povo Hamate, descobriu o que é ausência.
Como me arrependo do meu terceiro casamento. Nunca estávamos juntos. Zev era como um lobo, saía a noite e voltava dois dias depois. Eu ficava com fome, sede... sem amor. Eu amava Zev.
Mas eu deveria me amar mais. E assim eu fiz: larguei tudo o que reconquistei e parti dali para outro canto.
Não haveria como me esconder das línguas que me julgavam e condenavam: Adúltera! Prostituta! Inconstante...


Ele era o Cristo que esperávamos! Sentei-me no chão e saciei minha sede de amor.
E o amor verdadeiro encontrei no cansado viajante. O meu Senhor!
Não O olhava como aos outros homens. Nunca!
Não olhava seus cabelos e sim a Sua infinita sabedoria.
Não olhava os Seus olhos e sim a Luz que deles saía.
Não olhava o seu tórax largo, mas sim o Seu coração.
E só pensei em agarrar as suas mãos quando delas escorreram sangue, para Lhe arrancar daquela cruz!


Ava: Quarta nação a se casar com Samaria.
Os mais belos a se juntar conosco. Povo de sorriso largo, cabelos tratados e olhos azuis como o meu Zarco.
Nos casamos ao lado de um açude. Havia tochas e a noite estava linda. Dormimos numa rede ao luar e aí redescobri uma mulher que havia em mim: delicada.
Os afazeres do campo e o trabalho pesado de quem morava sozinha tinham adormecidos a doce samaritana.
Mas o que eu nunca pude esperar, é que Zarco, assim como o povo Ava, atrás daquela beleza se escondiam tiranos.
Meu quarto marido me esbofeteava a face quando eu não o desejava.
Cuspia e me chutava quando eu caía ao chão.
Me humilhava puxando os meus cabelos quando estava embriagado e, pra não ser acusada de assassinato, preferi fugir.

Ah, o sol da Palestina!
Olhei pra cima para ter uma noção das horas.
Mas pra quê as horas se o que Jesus me falava era tudo o que eu precisava.
Quantos lábios mentirosos “adoravam” e “glorificavam” sem verdade no coração.
Eu tinha coragem de assumir que era falsa, mas e eles? O que vocês vêem ao se olhar no espelho?
Que respeito eles queriam que eu tivesse de suas brancas barbas e cabelos?
Sim, Mestre. Adorar em espírito e em verdade!
Minha boca apenas sussurra o que meu coração grita.


Uzi lembrava os Sefarvains.
Aqueles mentirosos!
O último povo que os assírios trouxeram para se juntar com Samaria – nosso quinto casamento.
A nação Sefarvaim era de bandidos, ladrões, fanfarrões... E Uzi não era diferente.
Meu quinto e último marido me amava e a muitas outras. Trazia-me flores, castanhas e mel e ao mesmo tempo levava perfume para suas amantes.
Sim. Foi aí que eu passei a fazer jus à minha fama.
Antes de abandonar Uzi, eu o traí com todos que eu pude: velhos, moços, belos e feios.
Estranho... Como a minha história se parecia com a da própria Samaria!
Cinco homens e cinco nações.
Naquele dia, último da minha antiga existência, após pegar água, eu iria me encontrar com o marido de outra mulher.
Não queria mais relacionar-me com alguém que eu podia dizer “meu”.
Na verdade eles nunca foram meus.
Mas Jesus me fez abandonar a mim mesma.
Tão poucas palavras e tão profundas, tão sinceras e honestas.

Não tive medo quando os seus discípulos chegaram. Estava cercada por judeus, mas o que interessava? Estava feliz como há muito não estive.
Deixei meu vaso aos pés do Senhor. Deixei “minha velha mulher” – o vaso - aos pés de quem me transformou, e quem se levantou e correu para a cidade falar daquele homem não foi mais a adúltera ou a inconstante, mas sim apenas, A Samaritana.
Ah, o sol da Palestina!
Agora Jesus tinha com o que tirar água do poço.
E não somente isso: a Igreja de Samaria se casaria com o seu sexto marido, que até então ainda não O pertencia: Seu noivo é Jesus Cristo.
E Samaria, assim como eu, é mais fiel que nunca.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O BARQUINHO DE PAPEL




A Bíblia é perfeita.
Em tantos momentos a Palavra de Deus ilustra de várias e brilhantes maneiras a nós “crentes”.

Aos olhos do Senhor somos vaso, ovelhas, árvores, ramos de videira, somos luz e sal... Enfim, belíssimas ilustrações que Deus faz sobre nós para representar as formas como ele lida conosco.
Uma figura que poderia entrar na Bíblica (sem heresia, por favor) é de que somos um Barquinho de Papel.
Frágeis.
Confeccionados pela mão do Artista Maior – O dono de Todas as Artes.
Postos cuidadosamente numa nascente rasa e clara.
O início de tudo, quando a água é cristalina.
Naturalmente durante o curso da nascente, que agora é um pequeno riacho, alguns gravetos e pequenos galhos cruzam as margens. 

Mas o bravo barquinho de papel não se deixa ser agarrado, pois a corrente d’água (que representa o Espírito Santo) sabe guiá-lo e levá-lo em segurança.
Agora o riacho é um largo e fundo rio.
O que eram galhos agora são troncos que penetram da margem até o fundo, muitas das vezes obstruem de tal forma que o barco tem que passar por baixo ou até mergulhar sob os obstáculos.
Então vem as pedras. 

A corredeira é violenta e o barquinho mal pode se sustentar. 
O papel está encharcado e algumas partes rasgadas. 
O barco olha para a margem e pensa em desistir da dura jornada. Só que a margem é barrenta e pode segurá-lo e talvez nunca mais possa sair.
Pela primeira vez ele repara que não tem motor e que realmente precisa ser levado pelo fiel fluxo d’água. 

Só cabe a ele deixar se levar e olhar pra cima.
Sim. Há um céu sobre ele!
O barco relaxa.
O tempo passa, o estrago não foi tão grande assim.

Certa hora o barquinho de papel vai tão devagar que quase para.
O rio está largo, tanto que as margens mal podem ser avistadas ao longe.
Alguns bancos de areia passam bem abaixo do barquinho e por pouco agarram em seu fundo. 

Temos que ter cuidado. 
Pois é triste quando vemos outros barcos no rio que se encontram encalhados. 
Eles, pobres barcos de papel, não saíram do rio, mas estão mortos, estagnados, agarrados pelos fundos e não podem mais sair e seguir rumo ao Oceano que lhes espera.
O nosso barquinho reparou que eles só encalharam porque estavam muito pesados. É claro!
Tais barquinhos não eram só de papel. 

Sobre eles havia jóias, ouro, moedas de prata, gordura. Eles ficaram tão pesados, mas tão pesados, que foram pegos pelos bancos de areia.
São muitos ao redor do nosso barco de papel...
Tristes, parados... Milionários barcos.
E o nosso barco de papel se mantém no curso. 

É melhor permanecer assim, humilde, pois sei que todo ouro e toda prata não está no rio, mas sim no eterno oceano que me aguarda.

Fui feito de papel e de papel me manterei até chegar o fim.
Valeu à pena as margens traiçoeiras, as corredeiras bravias, os bancos de areia quase invisíveis, mas o barco já pode ver a sua frente o Eterno Oceano ao qual nunca mais sairá.
Afinal, o rio não sobe nunca, Ele leva ao Oceano. 

O Espírito Santo nos leva a Deus através de Jesus – O Caminho .
Sejamos como esse bravo barquinho de papel.
Perseverantes.

E por falar em “pairar sobre as águas”...


O mesmo segundo versículo (Genesis cap. primeiro) me convida a meditar sobre outro tema: MANSIDÃO.
E somente o Espírito Santo de Deus pra me trazer tal reflexão.
Se no momento de tribulação, de extrema prova, eu me assemelhar a um mar revolto, como o Espírito santo poderia pairar sobre mim?
Com minhas ondas de até quinze metros de altura, o Holy Ghost teria que se afastar de mim, dar mais altura para sobrevoar sobre mim e minhas ondas.
Essa idéia não me agrada!

Se por outro modo, durante a prova eu me acalmar, me encher de mansidão, me assemelhando ao mar calmo com ondas tão pequenas como um espelho d’água, não somente o Espírito Santo poderia estar bem rente a mim, como também sua imagem seria então refletida.

Sim! Quanto mais calma a água mais fácil de se refletir uma imagem!
É isso que eu aprendo.
Durante a prova, nada de tumulto ou revolta. E sim calma e mansidão. Pois só assim o Espírito Santo de Deus terá Sua imagem refletida em você.
E quem não quer ter a imagem de Deus refletida em si mesmo?
Sim, eu quero que Deus se veja em mim!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

“…e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Gn 1,2


Há palavras que instigam nossa imaginação. Pairar é uma delas. Merahefet cuja raiz da palavra é rhp, possui algumas possibilidades de tradução. Primeiro, pairar no ar de modo ativo e suave, em um movimento sempre direcional, como fazem o beija-flor e o helicóptero. Outra possibilidade de tradução é chocar como um pássaro sobre os ovos, conforme descreve Deuteronômio 32:11 “como a águia que vigia a sua ninhada, choca sobre seus pequenos filhotes…”.Todos esses sentidos levam ao aprofundamento do uso merahefet em Gênesis 1,2: “E o Espírito de Deus pairava, chocava sobre a face das águas”. Não resta duvida de que esse é um quadro formidável para descrever a atividade Deus, especialmente no relato do verbo merahefet é o ruah, espírito, sopro de Deus, que trouxe à terra as existência, bem como o sol, a lua, os animais, os seres humanos. Assim, gênesis 1,2 leva-nos a compreender que o Espírito de Deus pairava de modo suave e ativo para chocar, isto é, trazer vida ao mundo.

O interessante é que a Comunidade Científica considera que " A vida na Terra veio da água".

Bem... tenho que dar o braço a torcer!

Mas DEUS já sabia disso...

Se trocarmos "pairava" por "chocava" o entendimento será que

O Espírito de Deus já havia "chocado" toda a vida na Terra, ou melhor, na água.

O último estágio na fabricação de um vaso




A poderosa Palavra nos ilustra como o Senhor nos faz como vaso de barro (Romanos 9:21, Timotio 2:21, 1 Pedro 3:07, entre outras).


Em muitas das vezes nem imaginamos a seriedade das palavras proferidas a Deus em oração, para que, como oleiro, Ele nos quebre e nos refaça um vaso novo.

É com muito cuidado que devemos falar com Deus e pedir tal coisa. Pois Ele nos ouve e pode, num dado momento, realmente nos quebrar e por em prova para a criação de um vaso novo.
Houve um dia em que orei ao Pai para Ele retirar o que havia preenchido em mim. E não somente isso, que ele raspasse todo o lodo e limo que ficara grudado na minha parede interna. Pouco depois disso não houve jeito! Deus estava trabalhando em mim de tal maneira que eu O sentia raspando e esfregando dentro do meu ser. Coração e mente sendo purificados.

A dor da prova me consumia profundamente!

Sim. Era Deus me limpando e purificando para, aí sim, por um novo azeite a me preencher.
Depois de me raspar pensei: “Aí sim, já posso ser cheio de Espírito...”. Enganei-me ingenuamente!

Não valeria à pena Deus me quebrar com impurezas. Depois de lavado e limpo (pelo sangue do cordeiro), Deus me quebrou, misturou nova terra, colocou água e fez de mim nova massa para novo vaso.

Ao mesmo tempo em que as mãos de Deus eram pesadas ao me amassar, também me acarinhavam.

Mais um momento de prova em minha vida. Pensava eu: “Ah, Deus! Bendita hora que eu Te pedi para me fazer um vaso novo!...”

Depois de formado... Pronto. Agora sim!

Já podia ser preenchido pelo Espírito Santo.

_Vai, Senhor. Enche-me com o Teu azeite!

E tudo o que eu ouvi era o mais absoluto silêncio.
Não demorou muito para eu perceber que tudo estava ficando cada vez mais quente em minha vida.

Como eu pude me esquecer disso?

Meu Deus! Eu estava na fornalha para ser cozido. A prova doía demasiadamente! (ainda dói)
É difícil suportar tão grande tribulação em minha vida nesse momento! Dói, Senhor. Como dói.

Mas Deus, como O perfeito Oleiro, sabe a hora de tirar o vaso do forno antes que ele estale e quebre.

Antes de sair (em breve, espero) Deus, com sua infinita misericórdia somente me diz.

_ Alexandre, espera em mim que te preparo. Pois a última fase na fabricação de um vaso é a fornalha.

Amém!