terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Último Discípulo


ATOS I: 21 a 26.


Ah, aqueles dias!
Apenas mais um pequeno e magrelo menino que ficava pelos cantos murmurando sua má sorte.
Ninguém dos que viviam em sua rua se interessava por trocar meia dúzia de palavras comigo.
Durante os momentos de lazer, raros eram as vezes que me escolhiam para jogar “carimba”. Quando eu mesmo não levava a bola feita de bexiga de boi cheia de areia que meu pai havia feito, eu era deixado de fora da equipe e apenas assistia os meninos jogar várias partidas de episkiros”.
O único jeito era pegar a minha “pandorga” e empina-la aos céus por entre os pássaros... Ah. Aqueles dias! Quisera eu ser um daqueles pássaros!
Cresci achando que o futuro eu é que fazia.
Tinha certeza que meu suor e meus calos me trariam a sorte, ou melhor, eu a compraria.
Sorte? Pra que sorte?
Destino? Eu faço o meu destino!
Coloquei em minha mente o que faria nos próximos anos e, sem intervenção de ninguém ou nada, seria um homem chamado para o sucesso apenas com o meu próprio esforço.
Mas minha insegurança falava mais alto.
Eu me lembrava do velho menino. E por mais que você nos falasse sobre viver cada dia com o seu mal, me preocupar com um certo reino nos céus e uma vida eterna... Mestre, eu me achava fraco para tudo isso.
Eu adorava as história sobre Davi. Como Deus escolheu aquele jovem, dentre todos os fortes filhos de Jessé, para torná-lo um grande rei. Isso sem falar do próprio Samuel, que ainda menino o Todo poderoso o separou para o árduo chamado de profeta.
Ouvi falar de um tal Gideão que, de pequeno se tornou um nobre guerreiro e vi, com os meus próprios olhos, o carinho que Tu tiveste com Zaquel, pequeno em estatura.
Mas o máximo que estaria preparado para mim eram os meus planos.
Tentei comercializar madeira, mas eu não era tão bom com as palavras e poder de convencimento assim.
Tentei pescar, mas eu era muito impaciente.
Construir casas... isso nunca! O ofício de pedreiro era muito pesado pra mim.

Só me restou somar, agradavelmente, aos quase cento e vinte homens que Te seguiam, foram três anos e meio até chegar o momento.
Aquele dia nunca vou esquecer.
O mais importante de minha vida.
Eu e meu amigo José, o Barsabás, nos apresentamos a Pedro. Foi aí que eu percebi que já havia tanto tempo que Te ouvia e seguia Teus ensinamentos, desde Teu batismo até a subida aos céus.
Quanto tempo...
Mas é assim mesmo: quando é agradável de se estar, o cronos acelera sua covarde contagem e não percebemos que os dias passam num piscar de olhos. Ao contrário do momento da angústia, em que o mesmo cronos se esquece de mover.
Pedro orou.
Senhor, o que estava preparado pra mim?
Eu já havia voltado a pensar sobre as madeiras que haveria de vender, criando novamente meus planos para o futuro, e, de repente sou surpreendido pelo Teu querer?
Alguns de nós separaram uma moeda para jogar à sorte. Outros pegaram dois gravetos de tamanhos distintos para escolhermos, mas foi o próprio Pedro que pegou algumas pedras pretas e uma branca e as pôs dentro de uma sacola de estopa.
Um de nós haveria de pegar aquela pedra branca.
A cada pedra que tocávamos uma gota de suor escorria por nossas testas.
Nós nos entreolhávamos e sorríamos sem graça, e Pedro, somente segurava a sacola que a cada momento ficava mais leve.
Será que seguiríamos os passos do outro? Aquele louco! Perdão, Senhor. Mas é difícil de perdoá-lo! Por que, Judas? Por quê?
Pronto! Era dado o momento. Quando olhei meu punho aberto ali estava ela: a pedra branca.
José correu para os meus braços e me beijou a face e disse: “Boa sorte, grande amigo!”
Sorte? Senhor! Realmente Tu sabes o que fazer para nos preparar para o Teu propósito.
O que Tu viste em mim, Jesus?
Quem diria... Um dos doze!
O pequeno Matias!



Texto escrito por Alexandre Monsores, inspirado em ATOS I, quando Matias é sorteado para ficar no lugar de Judas, entre os apóstolos.

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