INTRODUÇÃO
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Aos meus treze
anos, durante o intervalo no colégio onde estudava, pisei numa folha ofício,
xerox de um texto datilografado denominado “eu, Deus e você”, de autor
desconhecido.
Durante anos
as poucas linhas deste texto ficaram em minha mente, significando muito pra
mim, me dizendo sobre como vivo e todas as coisas ao meu redor. Tomei a
liberdade de colocar mais palavras, preocupado em não eliminar a beleza do
texto.
E hoje, em
dois mil e sete, após assumir o meu compromisso com Deus e sua igreja, retoco
mais uma vez essas palavras, e com isso, mais uma vez prova-se que o amor não
se cansa de nos mudar.
Espero que
você, caro leitor, viaje junto do personagem dessa história... e também se
transforme no que você desejar.
Como eu me transformei.
Obrigado a você, autor desconhecido!
Espero que um dia não o seja mais.
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Oi!
Digo
Oi até mesmo pra mim, caso eu leia essas linhas no futuro. Posso precisar.
Não
estou mais só, como no início. Mas nesse tempo entre o início e o agora, eu
pude viver várias “vidas” e saber qual é a única coisa no mundo capaz de transformar de forma absolutamente
maravilhosa todas as criaturas existentes ou aquelas que poderão vir a existir:
O amor.
O
amor cria, destrói... O amor dói, alivia a dor...
Quem
de nós nunca passou por mudanças físicas, espirituais, externas ou internas,
bruscas ou sutis. Sempre a partir do momento em que esse ser chamado amor invade nossas vidas.
O
mais interessante é que até o próprio amor também transforma, também tem suas
diversas faces. Amor de mãe, de bicho, amor de irmãos, de amigos ou amantes,
entre estranhos. Amor de Deus...Sempre Amor. Acredito que vários outros
elementos compõem o amor, de tão completo e absoluto que o amor é.
Eu,
por exemplo. Eu era um astro. Longe. Frio. Distante de tudo o que ocorria no
universo. Sabe Deus para que propósito eu estava lá...
Até
que houve um dia, ou noite... (não sei bem a hora, até mesmo porque as horas
não existiam para mim) em que eu a
vi. Linda, radiante, feliz...distante, no entanto.
Algo
me aconteceu, e eu não parava de pensar naquele ser que eu admirava, mesmo
sabendo que ela sequer sabia da minha existência.
Então
fui até Deus. Há muito tempo que a gente não se falava, mas como Ele não se importa muito com isso, me recebeu
muito bem, até mesmo porque me conhece desde o início do início, e seu amor me
tornou o que eu era. O astro.
Fui
lhe pedir. Fui ver a possibilidade dEle me transformar em algo que pudesse
estar junto a ela de alguma forma. Era meio arriscado, pois não poderia voltar
a minha forma anterior, visto que Deus colocaria outro em meu lugar. Essa era a “regra”.
E
Deus, com todo o seu poder e compreensão, amor e verdade me perguntou: “O que
desejaria ser (ou estar), então?”. E entusiasmado disse “O Sol!”
Para
que eu pudesse acordá-la de manhã, passando pelas frestas de suas janelas; para
aquecê-la no frio; pra fazê-la ver que existo de fato. Grande...Importante!
E
assim Deus me fez o Sol.
Estava no melhor momento da minha vida. Tornei-me
o irmão mais velho da natureza. O astro maior! O todo poderoso Sol! Gigante!...
E eu estava mais perto dela.
Houve
então um dia (agora eu sabia o que era o dia) em que bem devagar entrei
pela janela do seu quarto. A imagem era linda: Deitada quase encoberta, serena, tranquila. Dormia com um leve sorriso de canto de boca. Inesquecível!
Cheguei
bem perto da boca sem poder beijá-la. Passeei pelas maçãs de seu rosto liso.
Parei nos seus olhos e numa fração de segundo ela apertou a vista por causa da
luz. Não quis machucá-la, então fiquei mais fraco, e ela acordou.
Levantou
de sua cama com um único movimento. Aproximou-se da janela e a abriu. Então eu
invadi seu quarto passando pelo seu corpo e ouvi: “Que dia lindo!”.
Êxtase!
Eu estava realizado. Um dia
após o outro me sentia mais vivo.
Eu era feliz.
Mas depois de algum tempo achei que faltava algo... Eu queria mais!
Havia sempre o problema da noite quando chegava, e o mundo me dava as costas, fazendo com que eu não a visse.
Aí eu pensei que, de repente, se eu fosse novamente a
Deus, e pedisse para que Ele me tornasse a Lua. Sim, a Lua! Poderia assim,
vê-la mais de perto. Observá-la mesmo durante alguns dias. E mais, ela poderia
me admirar em noites de lua cheia, sem tirar os olhos de mim.
Deus todo Poderoso novamente, com seu imenso amor... que
nunca compreendi na verdade, realizou meu pedido sem questionar. O Ser Divino
sabia que o que eu estava sentindo era verdadeiro. Era Amor! Ninguém melhor que
Deus pra saber disso.
E assim, eu fui a Lua...
Agora sim! A
cada momento em que ela olhava para o céu à noite, eu sorria e iluminava toda a
face escura da terra. Havia um brilho em seus olhos admirados pela beleza das
noites em que fui Lua.
Quando ela
sentava em sua varanda, eu me tornava mais baixo, sempre com muito cuidado para
não interferir nas marés ou algo assim.
Lembro-me de uma noite em que ela apagou todas as luzes
de sua casa, as do quintal, as do jardim e do portão, só para admirar a Lua. A
mim!
Eu a fazia
dormir todas as noites e fui feliz durante muito tempo...Sim. Fui!
Nós,
amantes, nunca estamos satisfeitos. Eu começava a me trair. Estava ficando
louco! Queria tê-la ao meu lado mais vezes, por mais tempo. Queria toca-la! Porém, desta vez eu
haveria de ser mais discreto... invisível até...
O que
poderia ser?
O vento...
Sim. O vento!
Pela terceira vez, em tão breve
espaço de tempo, estive na presença de Deus.
Ele não me
olhou espantado, pois parecia já saber que eu iria voltar. Ao invés disso, me
abraçou e perguntou em que eu “estaria” desta vez.
Eu é que
fiquei espantado. Mas como a sabedoria de Deus é incompreendida, calei-me.
Há coisas
sobre Deus que nunca vou entender. Já nem questiono mais.
Falei de uma
só vez : O vento.
Sem dar
tempo para Ele me perguntar algo, fui logo falando:
Senhor, tudo
bem que enquanto Sol ou Lua, a minha amada podia me ver, e até me admirar, mas
somente tocando em seus cabelos, acariciando o seu rosto como uma leve brisa,
refrescando-a debaixo de uma árvore qualquer, ou de repente na areia de uma
praia distante e deserta... aaah! Seria maravilhoso!
Deus viu mais uma vez a verdade em
meu olhar e meu entusiasmo
E então,
numa fração de segundos, o Pai Todo Poderoso me tornou o vento.
Imaginei que fosse definitivo.
"O Vento"
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Soprei
devagar em sua nuca e ela até se arrepiou.
Meu
Deus, obrigado!
Eu parecia
uma criança levada. Até levantar a saia dela, eu levantei.
Não cansava
de derrubar as frutas das árvores de seu quintal, só para facilitá-la a colher.
Certa vez
quis vê-la dormindo, e à noite, com uma rajada forte, abri a janela de seu
quarto e me assustei...
Ela não
estava lá!
Parei no ar.
Pensei: vou
à cozinha. Fui e não estava. Fui à sala; não estava. Olhei pelo basculhante do
banheiro; não estava lá. Saí por debaixo da porta e não a vi na varanda.
Onde ela
poderia ter ido? Saí a sua procura.
Vaguei por
toda noite. Fui a vários lugares: bares, ruas, esquinas, terraços... e acabei
conhecendo um mundo que não conhecia.
Já era de
manhã quando voltei a sua casa.
E levemente passei novamente pelas
frestas da janela de seu quarto, que eu já conhecia muito bem, e lá estava ela.
Parada.
Dormindo pesado. Mas com o mesmo sorriso de canto de boca. Que alívio! Agora eu
pude descansar.
Fiquei muito curioso pra saber
onde ela poderia ter ficado por toda a noite. Fazendo o que... e com quem...
Mas não valeria à pena me preocupar. Afinal ela estava ali. Apenas sabia de uma
coisa: ainda faltava.
Eu não
parecia satisfeito com a minha então forma de vento. Achei que haveria de ser
alguma coisa que não fosse apenas importante para ela, mais ainda, algo que ela
pudesse cuidar, ter carinho e atenção que eu precisava.
Por outro
lado, o que Deus iria achar se eu fosse novamente até Ele com mais um pedido em
mente. E ainda pedir para ser outro elemento. Será que Deus ficaria de saco
cheio de mim? Será que eu, produto de Deus, criado e transformado pelo Seu
amor, mesmo assim seria atendido?
E mais, o
que eu poderia ser, ou estar, dessa vez? A dúvida novamente batia em mim, talvez
pela preocupação de não poder errar e não poder voltar a minha forma anterior,
conforme a “regra”.
Bem. Como eu já a conhecia muito bem
(ao menos achava), e percebia bem o mundo ao seu redor (não sabia da minha
ingenuidade), creio saber no que seria... e com certeza , essa “coisa” ela
realmente gosta e cuida.
O seu
jardim!
Sim. O
jardim dela!
Eu, enquanto
Sol, Lua e Vento percebi o carinho que ela tem pelo jardim. Todas as manhãs ela
rega, poda, cheira e colhe flores. E tem mais: eu continuaria entrando em sua
casa, tocando-a quando passasse por mim, e teria o carinho e atenção que
precisaria ter dela.
Rapidamente
fui à presença de Deus. E Ele parecia estar me esperando.
Será que é só comigo? Ou Ele faz assim com todo
mundo e suas criaturas?
O silêncio
dEle me incomodava! Parecia realmente saber de todas as coisas.
Também me
permaneci quieto por um tempo e não adiantou.
Com apenas
um suspiro Deus me fez um jardim. O jardim dela!
Sentia ter
falhado com Deus. Lamentava ter ficado ausente tanto tempo. Queria ter conversado com Ele mais vezes. Mas será
que até essa ausência é compreendida por Deus? Que tipo de amor é esse que O
Pai Celestial tem, sem querer nada em
troca...sem saber se vamos agradecer ao menos, ou não?
Talvez pra
Deus isso não interesse.
Como pode
Deus ter sido “gente” e perfeito ao mesmo tempo?
Bem,
voltemos com a história...
Agora eu era
o jardim dela. E tinha algo na mente; a imagem dela passando por mim, e eu
acariciando as suas pernas...
Era bem cedo
quando ela levantou.
Depois de certo
tempo, ela veio, chegou perto de mim, procurou por algumas flores, me olhou por
inteiro, colheu algumas margaridas, e entrou. Mais algum tempo e voltou com uma
mangueira para me regar.
Como eu
precisava disso!
Nunca haviam sentido esse tipo
de amor, se é o que eu posso dizer assim, por mim.
Ela ficou
muito tempo mostrando seu carinho e cuidado pelo seu jardim, me regando,
podando, tirando o capim seco... e mais uma vez me senti realizado!
Porém, me
entristeço em lembrar do que houve depois desse momento maravilhoso.
Já era tarde
e esperava vê-la mais uma vez.
A porta
abriu bruscamente.
Ela veio
correndo.
Passou por
mim apressada, arrancando algumas de suas flores prediletas.
Estava
chorando!
Meu Deus! O que poderia ter acontecido!
Ela
atravessou a rua como louca. Parou meio que perdida, olhando de um lado e para
o outro.
Ah! Como eu
queria ter ido com ela! Saber o que estava havendo. Que angústia em ver alguém
que a gente ama, daquela forma, triste... desesperada.
Minhas
raízes me prendiam à terra. Como eu queria deixar de ser aquele maldito
jardim!!!
Só indo novamente a Deus, e lhe
pedindo pela última e derradeira vez para me tornar algo que, não somente
estivesse junto a ela, fosse importante pra ela, e por fim, sentir o que ela
sente!
E somente
sendo o sangue dela poderia tudo isso.
E mesmo sem
ir a Deus, até mesmo por causa do meu estado, o Todo Poderoso, de onde estava,
me fez ser o sangue dela.
Imediatamente me senti dentro
de suas veias, circulando velozmente.
Foi aí que
tudo começou a desabar de verdade.
Era estranho
o que eu sentia. Era uma mistura de medo e paz. Eu me sentia enclausurado e ao
mesmo tempo não me faltava ar...
No início
fiquei meio tonto, mas a experiência que tive enquanto vento me ajudou.
Passamos a
ser a mesma pessoa.
Voltamos pra
casa.
Tomamos um
banho quente e fomos dormir.
Estávamos
exaustos!
Ficamos
acordados até tarde. Pensando...Chorando...
Dias se
passaram e a tensão continuava. Havia um sentimento que era novo pra mim: a
saudade. Que é dor: A dor do espírito! Espirito que só passei a ter depois que
me tornei sangue.
Mas como eu poderia sentir saudade,
se eu estava com a pessoa que amava, junto a ela, dentro dela?
Algumas coisas confundiam-me por
sermos a mesma pessoa.
Parecia
loucura estar o tempo inteiro ao lado dela, pensando com ela, respirando com
ela, vivendo a vida dela... mas quem ama loucamente não o faz?
Talvez eu me
acostumasse e ficasse mais tranqüilo. Talvez...
Pela
primeira vez eu não estava tão certo de que estava no lugar certo, ou sendo o
ser certo.
Houve um
dia. Esse nunca vou esquecer. E talvez não esquecer seja a minha cruz.
O dia
inteiro passamos aflitos, apreensivos, ansiosos.
Certo
momento ouvi uma voz serena me aconselhando, dizendo coisas que me fez lembrar
as longas conversas que eu tive com Deus, nos bons tempos que eu ia até Ele.
Parecia que
eu estava em uma cerimônia.
Nós choramos
sorrindo.
À noite.
Fria. Ouvi certos sons. Pareciam com aqueles que eu ouvi nos bares por onde
passei, enquanto vento, procurando por ela.
Havia um
certo calor em nós. Estávamos agitados.
E então,
horas depois, o silêncio.
Percebi que
corria mais rápido por suas veias. Não sei dizer como estava, era realmente
novo o que eu sentia.
Percebi que
em certo momento, ela estava perdendo um pouco de mim...
E de repente
estava eu sobre um lençol claro, e esse mais estava no chão que sobre a cama.
A janela,
aberta.
A Lua,
cheia, lá fora.
Vento... uma
leve brisa.
Havia uma
música suave no fundo, e se misturavam a ela alguns gemidos.
A luz
estava fraca. Resumia-se a da Lua, outra que vinha por debaixo da porta, e um
abajur em forma de concha sobre uma pequena mesa ao lado da cama.
E sobre a
cama: Ela.
E desta vez
com um sorriso diferente; este, mais largo.
Tinha em sua
face o prazer e a dor.
Não parecia
preocupada com nada: a hora, a janela... comigo...
Havia ainda
sobre o chão um longo vestido branco, um véu sobre a cabeceira da cama, umas
flores em forma de arco, sapatos jogados e um impecável terno com o mais belo
cravo que eu tive, enquanto jardim, espetado no bolso.
A ela estava
abraçado um homem.
Acabava de
vê-la fazendo amor! Por isso que eu, sangue, estava agitado!
Meu Deus! O
que eu deixei acontecer?
O que você
deixou acontecer!?
Como eu,
dentro dela, responsável por ela, pude perdê-la
daquele jeito?
Me senti
traído. Tolo!
Você vive a
vida por alguém e recebe a traição em troca!
E você,
Deus...Como deixou isso acontecer?
Só havia uma saída. E essa não
poderia falhar.
Fui a Deus
para que Ele se retratasse e se obrigasse a me dar outra forma!
Fui ao lugar
de sempre em que eu O encontrava, e Ele não estava lá
Como não?
Ele não está em todos os lugares?
Ele não sabe de nossas aflições? Ele
não me provou que sabe?
Será que Ele
estaria, pela primeira vez, me dando as costas?
Como pode?
Ele é Deus e não ignora suas criaturas!
E nesta
hora, foi quando Ele me apareceu e disse:
Você não precisa ficar assim
desse jeito.
Estou aqui pra te falar de algo
que não sei se você está preparado para ouvir.
Como não? Deus não sabe de
tudo?
Eu tenho certeza absoluta do que
te falo, assim como sei o momento certo em que te falo. E mais, sei exatamente
a forma como eu te falo!
Você nunca vai conseguir por
dúvidas humanas em mim!
Eu nunca me contradigo!
Volúvel é ti.
Sei porque te criei assim.
Porém te fiz livre para
descobrir, mas não para se aprisionar nas suas próprias dúvidas.
Você mesmo é prova de que o amor
transforma. E transforma todas as coisas.
Menos a mim! Eu sou o criador do
amor e não tenho início nem fim.
Mas Senhor,
insisto, Tu não sabes de todas as coisas?
Primeiro vamos acabar com essa de “Senhor”. Já não temos intimidade o
bastante? O senhor está no céu, e eu
estou em todos os lugares!
Vamos falar do seu caso. E foi
por isso que você veio a mim, não foi?
Olha, você teve a chance,
digamos... privilégio, de estar em vários lugares e de viver várias
experiências. E o que você aprendeu com isso? Nada!
Veja bem:
Você era astro. E no momento
em que alguém, mais precisamente um cientista, ia te descobrir, te dar um nome,
você veio a mim pedindo para ser o Sol.
Tudo bem. Você foi o Sol.
Depois de você dar a luz do dia
para o mundo inteiro, secar roupas nos varais, evaporar a água depois da
enchente, ser o mais importante astro desse pequeno sistema... você veio a mim
para ser a Lua.
E depois disso, depois de
milhares de casais se amarem sob a sua luz, ter dado a maré aos pescadores,
depois de você ter sido tema de músicas e filmes, depois de virar motivo de várias
pesquisas espaciais para as mais brilhantes mentes neste planeta... você veio a
mim para ser o vento.
E eu, que te amo, te fiz o vento.
Depois de você soprar velas de barcos, moinhos, levar nuvens de chuva
para o povo seco. Depois de rodar cata-ventos de crianças e refrescar idosos em
suas cadeiras de balanço... você quis ser o jardim dela. E eu te fiz o jardim.
Você nem viu quantas pessoas
na rua te admiravam, e pediam suas mudas e sementes a ela, para terem um pouco
de sua beleza em suas casas. Quantos pássaros pegavam o que havia seco em você,
para construir seus ninhos. E até as borboletas e abelhas escolhiam a ti para
colher o néctar e pólen.
Você foi o sangue dela.
E nem ao menos pensou em quantas
pessoas no mundo inteiro precisavam de você, e aguardavam em filas
intermináveis por transfusões.
Senhor, Por que
falas assim comigo? Estás bravo?
Tu sabes que Te
amo!
Tu me amas? Então por que não confiaste em mim?
E não vou falar macio porque assim tu não mereces!
Mas Pai,
eu não sabia o que estava fazendo! E se sabia, era por amor!
Não justifica!
E não ouse culpar o amor pelos
seus atos!
Você desconhece o verdadeiro
amor. O amor é muito mais poderoso do que você imagina. Se eu estou aqui, é por
amor. E se você está aqui, agora, é por amor, mesmo que dessa forma, triste e
amargurado.
E a propósito, você veio a mim
para pedir algo, não foi? Vou fazer como se não soubesse e quero ouvir você
falar.
Sim Deus.
Por Sua misericórdia. Torne-me um homem. Aquele com quem a minha amada faz
amor!
Prometo
nunca mais te pedir nada!
Prometer por quem? Por mim?
Olhe. Já te fiz várias outras
coisas. Você foi transformado pelo meu amor por ti, e o teu amor por ela se
transformou. Você não percebeu isso! E o pior, por não ter me visto, achaste
que eu não estava contigo!
Assim te digo:
Não posso te fazer o homem que
ela ama. Com quem ela faz amor. Não tenho esse direito! Até mesmo porque, se
ela está lá agora, é porque eu quis!
Vou te fazer um homem, sim. Não
este, e sim outro, capaz de admirar estrelas e astros, precisar do Sol e vislumbrá-lo,
assim como a Lua, curtir a leve brisa em seu rosto, regar plantas e cuidá-las,
assim como você foi cuidado, viver com sangue em suas veias e dar valor a esse
precioso elemento. E o mais importante, que seja capaz de amar aos outros,
inclusive da mesma forma como ela ama nesse momento.
Tu serás
ainda, mais que uma criatura minha, serás discípulo meu. Terás essa experiência
em tua memória o resto de tua vida, com a responsabilidade de poder contá-la
pra outros homens. Antes que eles fiquem loucos e cometam erros em meu nome. Em
nome do amor.
Fale para que
possam aprender que eu Me mostro a eles de tantas formas e mesmo assim não me
percebem.
No meio da
minha grandeza celestial eu os olho, mas pra eles sou um “astro” discreto e
distante.
Fundamental
como o sol eu os ilumino e dou brilho às suas vidas, tão importantes para mim.
Carinhoso e
próximo como a Lua eu fico e os amo cada vez mais quando se reúnem e falam de
mim.
Os toco como o
vento, invisível e agradável, mas nem sempre me percebem...
Mostro-me
delicado a eles, tal qual um jardim, que mesmo sendo muito importante aos
pequeninos seres, torço para que pelo menos uma vez por dia falem comigo, me
regando com suas orações e louvores.
Sou o sangue
em suas veias lhes dando a vida e mesmo assim me esquecem.
Fale para eles
que eu os quero do meu lado aqui comigo. Assim como eu estou diariamente ao
lado deles.
E você, por fim, nunca questione
o meu amor por ti!
Boa viagem.
A partir de agora, te verei
apenas quando eu quiser. Não conforme a tua vontade, mas sim conforme a Minha!
E de repente
tudo ficou escuro e morno, agradavelmente silencioso... Uma voz familiar ecoava
no ambiente em que eu estava, dizendo: ”Olá, meu querido. Como você está hoje?”.
Era tão
real! Era bom.
Depois de um
tempo uma luz forte irritou meus frágeis olhos e algo saiu de meus pulmões, e
começando a respirar eu chorei, mais por estar assustado, é claro.
Quando pude
abrir meus olhos, acostumando-me com o lugar, pude vê-la novamente. Olhando pra
mim com choro e riso, nada comparado àqueles sorrisos de canto de boca.
Eu estava em
seus braços.
E foi aí que
ela me disse: “Te amo, meu filho. Como nunca amei ninguém!”.
E foi assim,
meus amigos, que eu vim parar aqui.
FIM