Sempre tive
condições de viver muito bem.
Meu pai me
deu uma herança e tanto! Mas nunca precisei comprar nada além do que eu
precisava.
Vivo com
certo conforto... mas meu conforto maior é saber que nunca precisei comprar
meus amigos!
Papai me
ensinou a ter perspicácia em reconhecer aqueles que estavam comigo por
interesse. Os ladrões, os invejosos e estelionatários.
Guardei
algumas pedras preciosas, algumas que eu comercializava por toda a Judéia, e
fiz um bom dinheiro. Mas insisto: nunca precisei comprar nenhum amigo!
Construí uma
casa confortável.
Meus quartos
davam vista para o mais lindo nascer do sol em Jerusalém, e até mesmo os
quartos dos empregados eram confortáveis em seus móveis e acabamento.
O pátio
central, onde moía-se o trigo, era tão grande que as crianças visinhas vinham
jogar bola com meus filhos.
Mas quando
me chegou a idade e as palpitações no coração, quando a taquicardia e a falta
de ar me assustaram numa certa noite, me vi obrigado a construir, separado um
pouco à parte, o nosso sepulcro.
Os senadores
mais antigos eram esbanjadores e vi muitos morrerem pobres.
Nós do Sinédrio
não costumávamos falar de morte, apenas do poder. Mas quando conheci o Bom
Mestre, aquele a quem chamamos de Cristo, e depois dos sustos em minha saúde
não pude fugir do assunto em meus pensamentos.
O susto do
princípio de infarto me trouxe medo... Ah, mas Jesus me trouxe paz e a certeza
de que, mesmo falho, porém arrependido, eu iria para a Eterna Morada, o Reino
de Deus Pai.
O Céu era
motivo de longas discussões com o meu amigo Nicodemos. Sempre que podia,
grandes amigos, mestres ou não, mas todos discípulos de Jesus vinham aqui em
casa para celebrar e falar sobre O Reino Celestial.
Mas uma
coisa me incomodava, meu Senhor Jesus nunca podia vir...
Ah, seus
passos! Não posso discordar dEle... O Messias tinha pouco repouso em suas
viagens.
Sempre pedi
a Pedro para trazer Jesus aqui em casa para jantar, conversar, ensinar e
dormir, claro.
Mas nunca
podia.
"Ele
mandou agradecer." - O jovem Marcos disse um dia.
Os dias se
passaram, meses, anos...
Naquela
madrugada, ao me acordarem, nunca imaginei que seria para avaliar as condições
de um certo blasfemo e agitador.
Mas esperem
aí! Meu Senhor não é nada disso que vocês estão acusando!
Foi inútil a
minha intervenção em absolvê-lo.
Crucificaram
o meu Senhor!
Ai meu
peito! As dores e palpitações voltaram!
_Calma,
José! Você vai acabar morrendo! - Preocupada me acalmava Rivka, minha linda
esposa.
Meu Deus!
Vim de longe fazer vida em Jerusalém, ter sucesso e vida próspera, ter fama em
toda a Judéia e assim consegui. Mas tudo cai ao chão e nada mais importa sem
meu Cristo aqui!
Juntei-me a
meu amigo Nicko, mestre e discípulo
fiel, e clamei pela guarda de seu corpo.
Estranhei a
permissão de Pilatos. Estávamos com pressa para cuidar de Jesus.
Era o mínimo
que eu podia dar a Ele: um enterro digno!
Meu Senhor,
morto! Que cena difícil de esquecer!
Aquele homem
nunca pode repousar em minha casa, dormir em um dos meus agradáveis quartos..
Até o meu próprio daria a ele... Mas... Estarei disposto a deixá-lo repousar
"definitivamente" em minha sepultura.
Nunca pensei
em ceder meu sepulcro para O Deus vivo... Mas pelo menos isso podia fazer por
ele.
Insisti com
Maria, sua mãe, e ela docemente aceitou.
Foi uma cerimônia
tradicional, porém simples.
Ficamos em
silêncio. E este silêncio fúnebre tomou as próximas setenta e duas horas que se
passaram.
Sim.. apenas
três dias!
Ele disse e
era verdade! Ele disse que iria ao Pai e prepararia um Lugar!
Meu Senhor ressuscitou!
Ai ai... meu Jesus só usou minhas dependências três dias!
Ha ha ha!!
Quem diria!!! Jesus dormiu em minha casa!!!
Que
privilégio o meu, um dia me deitarei na mesma cama que meu Senhor Jesus dormiu.
E quando
isso acontecer, o verei ao meu lado dizendo: "Acorde, José de Arimatéia! E
seja bem vindo, bendito de meu Pai!"
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Alexandre Monsores
Abril/2014