segunda-feira, 7 de abril de 2014

Jesus dormiu em minha casa!


Sempre tive condições de viver muito bem.
Meu pai me deu uma herança e tanto! Mas nunca precisei comprar nada além do que eu precisava.
Vivo com certo conforto... mas meu conforto maior é saber que nunca precisei comprar meus amigos!
Papai me ensinou a ter perspicácia em reconhecer aqueles que estavam comigo por interesse. Os ladrões, os invejosos e estelionatários.

Guardei algumas pedras preciosas, algumas que eu comercializava por toda a Judéia, e fiz um bom dinheiro. Mas insisto: nunca precisei comprar nenhum amigo!
Construí uma casa confortável.
Meus quartos davam vista para o mais lindo nascer do sol em Jerusalém, e até mesmo os quartos dos empregados eram confortáveis em seus móveis e acabamento.
O pátio central, onde moía-se o trigo, era tão grande que as crianças visinhas vinham jogar bola com meus filhos.

Mas quando me chegou a idade e as palpitações no coração, quando a taquicardia e a falta de ar me assustaram numa certa noite, me vi obrigado a construir, separado um pouco à parte, o nosso sepulcro.
Os senadores mais antigos eram esbanjadores e vi muitos morrerem pobres.

Nós do Sinédrio não costumávamos falar de morte, apenas do poder. Mas quando conheci o Bom Mestre, aquele a quem chamamos de Cristo, e depois dos sustos em minha saúde não pude fugir do assunto em meus pensamentos.
O susto do princípio de infarto me trouxe medo... Ah, mas Jesus me trouxe paz e a certeza de que, mesmo falho, porém arrependido, eu iria para a Eterna Morada, o Reino de Deus Pai.
O Céu era motivo de longas discussões com o meu amigo Nicodemos. Sempre que podia, grandes amigos, mestres ou não, mas todos discípulos de Jesus vinham aqui em casa para celebrar e falar sobre O Reino Celestial.

Mas uma coisa me incomodava, meu Senhor Jesus nunca podia vir...
Ah, seus passos! Não posso discordar dEle... O Messias tinha pouco repouso em suas viagens.
Sempre pedi a Pedro para trazer Jesus aqui em casa para jantar, conversar, ensinar e dormir, claro.
Mas nunca podia.
"Ele mandou agradecer." - O jovem Marcos disse um dia.
Os dias se passaram, meses, anos...
Naquela madrugada, ao me acordarem, nunca imaginei que seria para avaliar as condições de um certo blasfemo e agitador.
Mas esperem aí! Meu Senhor não é nada disso que vocês estão acusando!
Foi inútil a minha intervenção em absolvê-lo.
Crucificaram o meu Senhor!

Ai meu peito! As dores e palpitações voltaram!
_Calma, José! Você vai acabar morrendo! - Preocupada me acalmava Rivka, minha linda esposa.
Meu Deus! Vim de longe fazer vida em Jerusalém, ter sucesso e vida próspera, ter fama em toda a Judéia e assim consegui. Mas tudo cai ao chão e nada mais importa sem meu Cristo aqui!
Juntei-me a meu amigo Nicko, mestre e discípulo fiel, e clamei pela guarda de seu corpo.
Estranhei a permissão de Pilatos. Estávamos com pressa para cuidar de Jesus.
Era o mínimo que eu podia dar a Ele: um enterro digno!
Meu Senhor, morto! Que cena difícil de esquecer!

Aquele homem nunca pode repousar em minha casa, dormir em um dos meus agradáveis quartos.. Até o meu próprio daria a ele... Mas... Estarei disposto a deixá-lo repousar "definitivamente" em minha sepultura.
Nunca pensei em ceder meu sepulcro para O Deus vivo... Mas pelo menos isso podia fazer por ele.
Insisti com Maria, sua mãe, e ela docemente aceitou.
Foi uma cerimônia tradicional, porém simples.
Ficamos em silêncio. E este silêncio fúnebre tomou as próximas setenta e duas horas que se passaram.
Sim.. apenas três dias!
Ele disse e era verdade! Ele disse que iria ao Pai e prepararia um Lugar!

Meu Senhor ressuscitou! Ai ai... meu Jesus só usou minhas dependências três dias!
Ha ha ha!! Quem diria!!! Jesus dormiu em minha casa!!!
Que privilégio o meu, um dia me deitarei na mesma cama que meu Senhor Jesus dormiu.
E quando isso acontecer, o verei ao meu lado dizendo: "Acorde, José de Arimatéia! E seja bem vindo, bendito de meu Pai!"
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Alexandre Monsores

Abril/2014